terça-feira, 23 de abril de 2013

Celebração do corpo humano IV

E isso aqui não para de continuar! A cada postagem eu lembro ou descubro mais uma possível experiência artística que celebra o corpo humano e não consigo deixar de compartilhar com vocês.

Eis que esses dias, cantarolando e emitindo ruídos estranhos enquanto caminhava pela rua, eu pensei...

Não poderia também ocorpo humano ser celebrado e utilizado na criação artística musical? A única coisa que me veio à mente foi o som dos Barbatuques! E é com eles que saímos um pouco das artes plásticas ou visuais e entramos na música.

Bom, é claro e óbvio que a música pressupõe a ação do corpo em sua prática. Quando pensamos por exemplo em um simples assovio estamos falando do ar que inicialmente sai dos pulmões, cruza a traqueia e vem sair pela cavidade bucal cujos lábios se fecham em uma angulação precisa. Nesse caso, a boca serve como caixa de ressonância para reforçar o som resultante, atuando como um ressonador de Helmholtz. (fonte wikipedia)

Por outro lado, a ação de tocar um instrumento qualquer também pressupõe a ação docorpo em seu manuseio precisamente articulado com o objetivo de retirar dali, som. Seja o instrumento um violino, um saxofone, uma bateria ou uma caixinha de fósforo sacodida entre os dedos em um samba improvisado.

Mas e quando ocorpo é o próprio instrumento?

É isso que o grupo Barbatuques, se propõe a fazer. Utilizar o próprio corpo humano e unicamente ele como seu instrumento para fazer música. 



O grupo de São Paulo foi criado em 1995 e desde então vem se dedicando a aprimorar seu trabalho já tendo lançado vários CDs. No site, existe uma intridução ao trabalho deles que diz:

Referência internacional em percussão corporal, o grupo Barbatuques produz música orgânica utilizando o próprio corpo como instrumento musica. Melodias e diferentes ritmos musicais são criados a partir de efeitos de voz e da exploração de sons produzidos pelo corpo humano: palmas, estalos, batidas, mãos e pés em sintonia. O resultado é surpreendente.
Essa belíssima capacidade de entender e aproveitar o próprio corpo como instrumento para produzir arte e música torna os trabalhos do Barbatuques extremamente vivos e instigantes. Dificilmente, ao escutar, acreditamos que tudo seja feito exclusivamente com o corpo.

Experimente ouvir as músicas dos vídeos abaixo de olhos fechados. Só depois veja as imagens.




 
Deixo agora uma indagação, a mesma que fez e discute Frederich Nietzsche em vários momento de sua obra: afinal, o que pode um corpo?

Em seu livro Vontade de Potência II ele diz:
O corpo humano é um pensamento mais surpreendente do que a alma recente. [...] O que é mais surpreendente é acima de tudo o corpo; não nos cansamos de nos maravilhar perante a ideia de que o corpo humano se tornou possível.

Enfim... Fica então a sugestão: ouçamos barbatuques e escutemos nosso corpo vibrar através dele mesmo. Porque afinal de contas, será que sabemos o que pode nosso corpo?


Referências:

NIETZSCHE, Frederich. Vontade de potência. São Paulo: Editora Escala. s.d. pt. 2.







terça-feira, 16 de abril de 2013

Calebração do corpo humano III

Quando eu fiz a postagem anterior pensei "essa vai ser a última sobre a celebração do corpo humano...Vou propor outra coisa na sequência...". Mas a cada dia surgem coisas que se relacionam ao corpo e me deixam boquiaberto!! Então...  sigo na proposta de CELEBRAR O CORPO HUMANO!! =]

Abro um parênteses: se vocês quiserem propor alguma temática, ou algo que considerem interessante relacionando biologia e cultura e arte, sintam-se à vontade. Ou se estiverem gostando, expressem isso comentando aí, para eu saber que vocês estão acompanhando. Vamos dar vida a isso aqui?? =] Fecho o parênteses!

E é aí que eu me pergunto: e quando o corpo ganha novos sentidos e possibilidades somente servindo como muldura para pintura? Em tempos de manipulação de imagem no photoshop, de bundas perfeitas sem celulite de rostos inimaginavelmente sem rugas e sorissos brancos como a neve, é isso que a pintora japonese Choo-san propõe (no tumblr dela existem várias das pinturas e também alguns vídeos todos feitos com várias fotografias, sem o uso do photoshop). Usando somente tinta acrílica e maquiagem, ela cria verdadeiras obras-de-arte hiper-realistas em seu surrealismo sobre seu próprio corpo e de vários modelos.




É incrível como as pinturas são reais e criam verdadeiros mundos em corpos humanos. São corpos que passam a ser habitados por outros seres. Corpos que se tornam somente vestimentas quando ganham zíperes. Corpos que viram autômatos ao ganharem botões, tomadas elétricas e  Corpos que se tornam translúcidos quando permitem ver seus órgãos internos. Ou que se tornam desfigurados ao ganhar mais uma boca, mais dois olhos, etc...

Na filosofia contemporânea existe um conceito: simulacro. Eis sua definição:

O simulacro implica grandes dimensões, profundidades e distâncias que o observador não pode dominar. É porque não as domina que ele experimenta uma impressão de semelhança. O simulacro inclui em si o ponto de vista diferencial; o observador faz parte do próprio simulacro, que se transforma e se deforma com seu ponto de vista (DELEUZE, 1969, p. 264).

Essas pinturas poderiam ser definidas como simulacros de corpos humanos. Corpos humanos que se deformam, que trazem uma impressão de semelhança, mas que têm em si algo que é um diferencial significativo que não podemos dominar.Entende-se um zíper na pele humana? Esse conceito remonta à Antiguidade e vem desde Platão, mas isso é outra história...






Enfim, são corpos que se tornam múltiplos,se abrem em estranhas mutações ocasioandas somente pela precisão de uma artista muito criativa. 

Isso me leva a dois questionamentos:

Primeiro: no que gostaríamos que nossos corpos se transformassem se pudéssemos fazê-lo se tornar alguma dessas ousadas criações?

Segunda: O quanto o uso de ferramentas de edição e manipulação de imagens realmente nos aproxima da criatividade ou só nos faz pasteurizar e homogeneizar mais ainda a arte e as possibilidades de expressão que existem...

Ficam as questões vibrando em corpos surreais hiper-reais... =]

Referência:

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1998. 342 p.














terça-feira, 9 de abril de 2013

Celebração do corpo humano II

Ainda dentro das postagens celebrando o corpo humano nas múltiplas leituras culturais que se fazem a partir do biológico, trago outro projeto que nos força a pensar e nos coloca em um espaço ambíguo de dúvida e incerteza....

Dessa vez, a proposta é do fotógrafo inglês Phillip Toledano. Em seu projeto "A New Kind of Beuaty" (Um novo tipo de beleza), ele se propõe a fotografar pessoas que abusaram da modificação em seu corpo através da cirurgia plástica.


Nem sempre tivemos a total autonomia e direito sobre nosso corpo. Essaé uma conquista recente na história da humanidade. A noção de corpo próprio (É meu corpo e posso fazer o que quiser com ele) remonta ao renascimento - Século XVI e XVII,aproximadamente. Mas desde então até hoje muita coisa mudou.

O que Toledano apresenta é o outro extremo que vivemos hoje. Seu projeto mostram retratos de corpos humanos manipulados cientificamente, culturalmente e esteticamente para atingir um ideal (doentio - ao meu ver) de beleza. Até que ponto deve (ou pode) ir nosso desejo de corresponder a um esteriótipo, a uma imagem clichê de beleza e de saúde?

O que as fotografias trazem é o limite do que se considera beleza e das formas de atingí-la. Além disso, abre uma discussão ética... Até que ponto deveríamos chegar (enquanto sociedade) nessa obstinada obsessão de beleza a qualquer custo?

Seguem abaixo as fotografias, entremeadas pelo interessante texto cheio de indagações do artista, que está presente em seu site.


"Estou interessado no que podemos definir como beleza, quando decidimos criá-lo nós mesmos."




 A beleza sempre foi uma moeda, e agora que finalmente temos os meios tecnológicos para cunhar a nossa, que escolhas podemos fazer?

É a beleza informada pela cultura contemporânea? Pela história? Ou é definido pela mão do cirurgião? Podemos identificar tendências físicas que variam de década para década, ou é a beleza atemporal?

 



Quando refazemos a nós mesmos, estamos revelando nosso verdadeiro caráter, ou estamos tirando a nossa própria identidade?






Talvez nós estejamos criando um novo tipo de beleza. Uma amálgama de cirurgia, arte e cultura popular? E se assim for, os resultados são a vanguarda da evolução humana induzida?






terça-feira, 2 de abril de 2013

Celebração do corpo humano I

E quando o corpo humano vira, além de material artístico, um material de trabalho para a construção de objetos cotidianos, como por exemplo, mobília??
 

É isso que propõe o artista espanhol David Blazquez.


Em uma exposição em Sevilha, ele apresentou um ensaio fotográfico que explora uma ideia interessante: mobiliário humano.

Parece ser o limite ao pensar o corpo humano como material de trabalho. Até porque, nas obras, éo próprio artista que aparece, completamente nu. Seria alguma coisa como explorar o corpo como objeto e material de trabalho, longe de qualquer discussão que remeta o nu à algum tipo de moralismo.

É comum na atualidade científica, a relação do corpo humano com objetos tecnológicos, como próteses, mecanismos que incorporam artefatos maquínicos ao indivíduo. Nesse caso é o objeto artificial que vem ao humano. Já o contrário, não parece ser algo tão comum. Talvez seja por isso que as imagens chegam a causar certo desconforto. Pois mostram humanos desprovidos que humanidade (isso seria muito além do que "mortos").

É o corpo humano esquartejado em sua humanidade. Potencializado em sua objetificação.