terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Entre ciclos

O poeta Manoel de Barros diz que a imaginação e a poesia transveem o mundo:


"O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades."

Manoel de Barros - Livro sobre Nada p.75


Como transver a ciência e a embriologia pela poesia?
Eis uma série de poesias que brincam com essa possibilidade.


Primeiro a poesia da Ana Karolyna, João Victor, Karina Martins, Maria Laura e Marisa da 214.


Entre Ciclos

De um simples beijo;
De toques e desejos;
Unem-se dois seres;
Partes de um;
Partes de outro;
Geram um todo.
A vida é gerada;
Divisões e divisões;
Formas e formas;
De um ser que se transforma;
Até chegar a complexidade da forma.
Um caminho a percorrer;
Em busca do conforto, do calor;
Do silêncio, do amor;
Da alma que o assegura;
Com a dedicação mais profunda.
A ligação de um intenso afeto;
Feto;
Dois corações que batem por um só;
Originando o mais firme nó;
De um singelo amor;
De abrigar um ser em seu interior.
Depois de um longo tempo, vem-se a dor;
Dor de alegria, completando a vida;
Uma nova história será escrita;
Altos e baixos viram;
Os laços não se romperam;
Pois o ciclo não termina.
 

Outra poesia do grupo do Alisson Thomé, Daniel Pereira, Lucas, Pedro B. e Tomaz da 214
 

O nosso fruto

O tempo da Terra dar 90 voltas
Foi o momento que fiquei atento nela
O nosso fruto é zigoto,
Toda linha trajetória, meu futuro,
Agora o relógico se foca em um
Novo, novo tempo.
Da angústia, do aperto, do temor,
Brotou um sorriso amarelo em mim
Enquanto nela se segmenta um novo
Caminho, clivagem de um novo ser,
Ah meu filho, de ti, único, vários representará,
Não importa o que veio primeiro,
Não é seu excretor que vai nos contar
Por nem ele sabe o que te aguarda,
Que endo sejas sensível, respire....
Que meso tenhas equilíbrio, sejas firme
Que ecto saibas sentir os outros
De folhetos perdidos faço de teu
Coração, um coração nobre
De um tubo neural, faça teu pensamento ético,
Te peço, noto-corda
E se noto corda, de tuas cordas
Ouvi luzir teu choro.
Em meio aos meus braços eu senti, como é bom,
Estar leve e sorrir...
O que posso fazer, se não te amar,
Te mimar, gira Terra em torno do sol!
Do embróglio que quiprocó, do engodo
Da ternura, do amor fez-se esse nó
Que aperta forte no meu peito
Quando se afastas desse jeito!
Que um dia, se sinta como eu
Adeus... filho.


Ainda outro texto. Esse do Daniel Pereira, também da 214


É simples; zigoto, mórula, blástula, gástrula, nêurula...

Mais algum tempo e pronto! Um novo ser humano. Cresce, come, dorme, pensa, anda, vive. Como qualquer outro. Poderia ser simples, é como deveria ser. Impõem limites no pensar, no fazer, em como ser. Ditam como anda, por onde andam. Eu quero ir aonde eu quero ir. Não pode. Posso tentar me esconder, tentar procurar um lugar tranquilo. Me acham louco. “Tá bom, sociedade. Quero ver você me pegar.”

Por que a vida não é simples como a sua formação, tão lógica? A vida em comunidade precisa ser tão complicada assim? Assim como livros de Biologia, deviam ter livros para ensinar a viver. Talvez tenha, mas devem ter achado insignificante. E também, ele deve ser grande, ou até ter vários volumes. Um volume inteiro para nos desapegarmos dos costumes e manias. Outro para entendermos a sociedade e como viver nela, bem como aprender a cultura dela.

É realmente uma pena não ter um manual da vida em comunidade, aliás, deviam distribuí-los na maternidade, quando nascemos. Seria tudo mais simples. Os mal-educados saberiam se comportar, os fofoqueiros, a se controlar, os chatos a repensar. Aí poderíamos gastar todo o nosso tempo ao pleno prazer e trabalho.

Engraçado. Nenhuma outra espécie parece ter dificuldades na vida em sociedade. Dizem que temos mais inteligência, mas para que? Ela deveria ser usada para o conforto, praticidade, o simples. Mas só fazem complicar. É engraçado ver, por exemplo, a organização das formigas. Mas até penso, elas se divertem? Será que tanta ordem e trabalho tiraram delas a diversão? Quem se importa.

O bom da vida é viver. Enquanto ficar aqui, pensarei. Mesmo se nada fizer, nada mudar, saberei que fui diferente, assim como muitos, mas não todos. Talvez falte isso, a diferença de opinião, do pensamento. Enquanto houver pessoas pensantes, saberei que não estou só.
Mais uma história de amor entre o ovócito II e o sptz. Essa é com traços de rock, soul, jazz e também solidão, paixões ardentes e desvariadas! Essa é da Maria Laura, Marisa e do Lucas da 214.



UMA ROMÂNTICA HISTÓRIA DE AMOR


          Era uma ver uma linda ovogônia chamada Jubiscréia. Jubs, como era conhecida por suas irmãs, vivia feliz em seu ovário.
          Jubs possuía muita saúde e crescia rapidamente, logo se tornando um ovócito I.
          Numa certa manhã ao acordar, Jubs descobriu que tinha poderes especiais e que era capaz de se dividir em duas, mas ao se dividir surgiu um pequeno glóbulo polar, chamado Perisclaudo. Ela não sabia como e nem por que ele havia surgido, mas se tornaram grandes amigos. Também descobriu que não era mais um ovócito I e sim um belíssimo ovócito II.
          Foi então dar uma volta, mas já como não podia se movimentar de forma eficaz teve ajuda dos cílios, “pelos” existentes nas tubas uterinas, que era onde queria passear. Jubs sentiu então a presença de visitas, mas não eram 100, 200 visitas, mas sim milhares delas. Não sabia por que estavam ali, mas enviou sinais químicos para que chegassem logo. E logo elas chegaram… Uma enxurrada de adoráveis espermatozóides veio ao seu encontro. Rapidamente ela entendeu que eram todos pretendentes, todos esperando a chance de poder fecundá-la, mas ela era jogo duro e não iria deixar qualquer um fecundá-la. As células foliculares e a zona pelúcida a ajudaram nesse complicado jogo, aumentando sua proteção. Elas também achavam que apenas o espermatozóide vencedor deveria fecundar Jubs.
          Enfim chegou Crodoaldo, um magnífico espermatozóide, belo e forte, que com toda sua força, fez de tudo para conquistar Jubs. Ela, por sua vez, apaixonou-se a primeira vista e não lutava contra essa paixão enlouquecida então Crodoaldo logo conseguiu fecundá-la.
          Vendo a felicidade do ovócito II, as células foliculares e a zona pelúcida tornaram ainda mais fortes à proteção daquele ovócito II, para que nenhum espermatozóide pudesse estragar a felicidade do casal.
          Quando Jubs e Crodoaldo se uniram, não foi uma união qualquer, mas se tornaram verdadeiramente um só. Aquela louca paixão originou um forte óvulo, além dele um querido glóbulo polar. Perisclaudo, o glóbulo polar amigo de Jubs estava cansado de toda solidão, iniciada após a ida de Jubs e por fim decidiu-se dividir-se, originando dois glóbulos polares.
          Para curtir aquela nova união, Jubs e Crodoaldo resolveram até viajar, indo conhecer as magníficas paredes do útero. O lugar era extremamente encantador e eles acabaram decidindo que iriam ficar por ali mesmo, finalmente estabelecer a vida por ali.
          Aquele lindo óvulo logo cresceu, se desenvolveu, e do magnífico feto que se tornou nasceu uma bela criança, cabelos pretos, olhos castanhos… Uma criança muito linda e talentosa, conhecida como Amy Whinehouse. Mas não se importe, tais informações são irrelevantes, só nos importa saber que tal criança nasceu de um forte romance, Jubs e Crodoaldo.