quinta-feira, 2 de maio de 2013

A última celebração - Celebração do corpo humano V

Essa é a última celebração do corpo humano que eu gostaria de propor. Poderia trazer mais e mais contribuições. Acredito que vocês já devem ter percebido que existem muitas e diversas possibilidades de celebrar o corpo humano. Uma curiosidade, celebrar, do latim tem sua origem em celebrare que significa - entre outras coisas - numeroso e abundante. (Eu descobri isso agora, mas faz todo o sentido não?)

Eu escolhi essa última celebração entre milhares de possíveis, pois ela traz um elemento de discussão novo. Até agora quase todas as contribuições na celebração do corpo humano, privilegiavam ele (o corpo), enquanto "objeto" para criação artística. Mas quase todas essas celebrações, não eram elementos funcionais em relação ao corpo, para além do contexto da arte. (A não ser, talvez, as cirurgias plásticas).

Essa última celebração situa-se plenamente na fronteira. No limite, entre arte e ciência. Arte e funcionalidade. Arte e transposição de uma situação difícil de ser transpost: a deficiência física.

Hoje vemos muitas discussões sobre inclusão, aceitação da diferença, espaço para deficientes físicos, mas nem sempre foi assim. Durante muito tempo essas pessoas sofriam um ostracismos social e um esquecimento de tudo. Basta pensar, por exemplo, em como a acessibilidade em coisas simples, como andar na rua, são questões atuais.

Hoje já existem tecnologias, que permitem às pessoas com deficiências viver normalmente (mesmo isso sendo totalmente ambíguo. Afinal de contas, o que significa ser normal?). Uma dessas tecnologias que evoluiu muito, são as próteses que simulam membros perdidos epermitem aos usuários realizar ações antes inimagináveis na falta de um braço ou uma perna.

Mas e quando essas próteses tornam-se objetos artísticos. O que dizer de uma perna cravada de diamantes? Ou um braço com uma cobra encravada nele?

É isso que faz Sophie de Oliveira Barata no "The Alternative Limb Project". Artista formada na Universidade de Artes de Londres, ela se dedica e pensar e esculpir próteses para membros mutilados. Faz isso muito bem por sinal. Suas próteses são extremamente realistas, como mostram as imagens abaixo.



Mas não são essas as próteses que me fazem pensar, mas sim as outras. Aquelas que ela cria não com seu trabalho fidedigno e científico, mas sim com aquele artístico.Quando ela permite sua imaginação fluir e dançar com o gosto do freguês. É assim que surgem próteses como as abaixo.










Pensadas em seu estúdio, com a participação ativa dos futuros donos, criam-se membros que fazem de qualquer braço ou perna "comum" algo obsoleto.

Experimente olhar a perna abaixo e depois a sua. Não dauma pontinha de vontade de substituí-la?



Enfim, isso abre uma interessante e atual discussão: hoje, com as possibilidade tecnológicas que temos, até que ponto o corpo humano não se tornou, extremamente substituível, dessacralizado e vazio de sentido, mas também sublime, potencializador de novos olhares, possibilidades de intervenção e ampliação do que designamos humanos?

Fica somente a dica para que continuemos sempre e cada vez mais, celebrando o corpo humano. Nosso fiel guia e companheiro enquanto aqui estivermos. Vivamos ele, exploremos suas capacidades, criemos novas possibilidades, mas sempre lembrando que embora possamos alterar, manipular e criar sobre o corpo, ainda temos, durante nossa vida, somente um. E é este que vai nos acompanhar até o fim.





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